20 abril 2007

Da janela dava para ver o carro saindo da garagem. Era uma das poucas coisas que podiam ser vistas dalí. No quarto andar não dava pra ver muita coisa porque o pequeno prédio amarelo-queimado era rodeado de gigantes espelhados. Era quase um alienígena na paisagem dos altos prédios de escritório. Mas não chegava a chamar tanta atenção. Ficava numa rua sem saída e pouco movimentada, e de lá não se via quase nada. De um lado era a rua, do outro o estacionamento do prédio ao lado.

Aquele horário da manhã não era um dos mais felizes do dia. O marido saia para trabalhar cedo. Era duro ter que ficar o resto do dia em casa tratando dos afazeres domésticos mais chatos. Ao ver o carro sair pelo portão de alumínio ondulado toda manhã, uma gota de lágrima era espremida pelo fechar forçado de olhos que não se fecharam direito durante várias noites seguidas. Aquela não era a visão matinal que ela sonhara.

Depois de sentir o frio do vidro da janela, a mão sempre fechava com força, pra ser de uma vez só. Voltar àquela janela só na outra manhã. Ninguém naquela casa tinha parado para pensar ainda. Ninguém havia percebido que fazia sete anos que aquela cortina passava o dia privando o sol de entrar, sete anos.