18 junho 2007

É feio e triste - disse à Fermina Daza - mas é todo amor.

As primeiras impressões sobre "Amor nos tempos do coléra" foram um tanto mornas: o fim de um casamento de aparências entre Urbino e Fermina, onde ,apenas no final, cai sobre ambos o peso do amor - sim... apenas no final, porque até o final do livro, minha visão do amor ainda era aquela romanceada, do paraíso eterno e dos caminhos perfeitos quase sem pedras, apenas umas poucas, diminutas; Uma paixão arrasadora partida ao meio pelos caprichos malucos de uma maluca, que deixou o pobre Florentino numa miséria secular numa cruzada de depravação sem limites; E os cominhos de choque culminantes em um fim triste. Essa era minha impressão, porque, aparentemente, o amor entre Fermina e Florentino era impossível. Impossível pelos preconceitos que fazem a cela da minha prisão do amor.
Essa minha prisão, causada pela vista limitada do amor, vem sendo destruída ao longo do tempo, e esse livro é mais um serrote, uma barra a menos, no caminho da alforria. Num filme recente, "Vênus" , vislumbrei uma amor sublime, que me encantou de forma aterradora. Aquele amor, facilmente confundido com perversão, do velho e da moça, mostra o quanto da vida nós podemos perder por orgulhos bobos, ou dogmas hipócritas. Porque, no fim do livro, mesmo Fermina sendo a cachorra que foi, e Florentino sendo depravado em seu cio eterno, depois de todos os percalços, conseguiram resplandecer um amor eterno, bonito e sincero, que na verdade nunca deixou de existir, recaindo antes, os de ambos, em vários locais diferentes.
Porque, na verdade, o amor é eterno, você sempre ama, mas ora cai de um lado, ora cai de outro. E assim, fica caindo eternamente, até que um dia a força dos ossos deixa de existir e cede ao peso do mundo.
Fermina em seu cárcere do lar, amou. Florentino, na suas "andanças", amou. No fim, sós, apenas um com o outro, se amaram. O amor é isso: é paixão, dor, tara, obscenidades, cárceres, brigas, ódios, desamores, vida, sossego. Tudo ao mesmo tempo, girando e caindo, aqui e acolá. Assim, eternamente, até que um dia a força dos ossos deixa de existir e cede ao peso do mundo.