07 agosto 2006

O rosto do espelho

Não reconheço mais o rosto do espelho. Os cabelos, a pele. Apenas os olhos parecem iguais. Mas só parecem. Não há mais brilho. Apenas um vazio. Como se a coisa que ficasse lá dentro tivesse tirado férias. Ou, quem sabe, até mesmo, ido embora.

A inocência morreu, a decência morreu. Aquele garoto com idéias e sonhos, se transformou em algo vazio e sem rumo. Nem as lágrimas são iguais. Antes elas tinham a capacidade de levar embora a angústia e o nó na garganta. Antes pareciam purificar a alma e aliviar o peito. Agora, parecem como aguá saida de encanamento velho, cheia de ferrugem e sujeira.

Cheio de sentimentos confusos, não consigo encarar o rosto do espelho. Ele me enoja. Enoja pela falta de consideração; enoja pelo egoísmo; enoja pela falta de carater; enoja pela covardia; enoja pelo medo; Enoja por tudo.

Mais lágrimas pretas e nada. Não consigo tocar o rosto do espelho. Queria poder ajudá-lo. tocar o seu rosto e dizer que tudo vai dar certo. Fazer erguer os olhos e olhar pra frente. Ensinar a superar os problemas sozinhos. Mas o vidro não deixa. Sinto apenas frio. Olhar vazio, desesperado por ajuda. Simplismente não consigo.